Cumprir o Norte para cumprir Portugal
O tempo é de incerteza, incerteza talvez nunca tão plenamente compreendida e sentida como hoje. O contexto global pré-pandemia já refletia mudanças complexas com alterações geopolíticas e processos de transição digital, energética e ambiental. A crise sanitária está a acelerar o tempo histórico, alterando modo de vida e de trabalho e tornando mais indefinido o futuro de pessoas e organizações.
É sobre este tempo e esse futuro que, com legitimidade reforçada, as agora empossadas lideranças das regiões do continente são chamadas a intervir, para planear e coordenar estratégias e mobilizar agentes. O Norte tem mais responsabilidades na resposta a estes desafios, pela importância da sua demografia, da sua indústria exportadora, dos seus recursos naturais e patrimoniais e do prestígio das suas instituições.
Hoje, mobilizar a ação coletiva é decisivo para agir em tempo sobre o presente e abrir horizontes. É indispensável uma abordagem dual, atuando sobre as ameaças à qualidade de vida das pessoas, provocadas pela destruição de rendimento e de empregos, e preparando um futuro sustentável. O Norte precisa de respostas já e de respostas para a próxima década.
Por isso, a CCDR-N tem de ser uma referência estratégica e uma voz esclarecida, capaz de mobilizar o Norte para agendas prioritárias, contribuindo para o todo nacional.
Destacam-se a definição das políticas de ordenamento e de desenvolvimento regional, os instrumentos financeiros para o quadro 2030, a revisão dos atuais programas, como o NORTE 2020, e a gestão e acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência. Trata-se de realizações no contexto da indispensável descentralização do Estado, recentemente reiterada pelo primeiro-ministro, acompanhada do essencial aumento da autonomia administrativa e financeira das CCDR.
Os grandes investimentos devem ser sujeitos a adequada leitura territorial e complementados por outros, de proximidade, destinados à coesão e ao combate aos efeitos recessivos, nos quais a ação dos municípios e das entidades intermunicipais é especialmente relevante.
O país e o Norte têm de ser exemplares na reforma do Estado e na sua reorganização territorial. Serviços públicos eficientes e próximos das empresas, das instituições e das populações, na saúde, na educação, no emprego ou na cultura, são decisivos para uma região coesa e competitiva.
A cooperação euro-regional, designadamente com a Galiza e Castela e Leão, também não pode esperar. Há novos desígnios e projetos para um reforçado metabolismo transfronteiriço.
Pela história e pelo presente, o Norte tem de ser a região motora e liderante. O futuro do país passa por este chão. Se o Norte falhasse, Portugal não cumpriria o seu encontro com a modernidade. O Norte não falhará.
António M. Cunha - Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, in Jornal de Notícias